Mulheres são 50% do público que recorreram aos empréstimos em julho

É a primeira vez em dois anos que as mulheres correspondem pela maior parcela de solicitações de empréstimos no Brasil. O perfil que até então era predominantemente masculino, mostra que o cenário econômico tem afetado também outros.

São mulheres, com idade média de 34 anos, que corresponderam, sozinhas, por cerca de 50,2% do total de solicitações feitas no mês de julho, segundo o Índice FinanZero de Empréstimo (IFE).

A mudança deve-se aos últimos anos de pandemia que evidenciou ainda mais as diferenças entre as classes sociais e principalmente, causando efeitos negativos na economia doméstica que em geral é conduzida por mulheres.

A perda do emprego e a necessidade de trabalhar na informalidade, também colaboram diretamente para a inversão do perfil de quem busca por empréstimo, as mulheres foram as primeiras a serem demitidas e encontram mais dificuldade na recolocação do mercado.

Com a queda da renda familiar, muitas mulheres não tiveram outra alternativa para manter as contas em dia e evitar de entrar na inadimplência.

Em uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em julho, foi identificado que 80% das consumidoras tinham contas a vencer. Em janeiro, eram 72%.

Busca por crédito pessoal e empreendedorismo

Muito se fala sobre o empreendedorismo no Brasil, entretanto quem conhece a realidade do mercado de trabalho conhece as dificuldades dessa modalidade. Com alta do desemprego, muitas pessoas não tiveram para onde recorrer e tornaram-se “empreendedores”

A necessidade e a ”pejotização” forçada por muitas empresas, mascara dados e confunde a cabeça daqueles que acreditam que ser um MEI, sem preparo ou planejamento de negócio, torna-o um empresário.

Ao contrário, sabe-se que muitas empresas contratam PJ/MEI para fugir das responsabilidades trabalhistas e fiscais. Muitas vezes tratando o “empreendedor” como funcionário CLT, com obrigação de cumprimento de horas, participações em reuniões e cobrança de produção diária.

Diante disso, é possível que estas mulheres estejam sofrendo de falta de oportunidade de trabalho ou desvalorização da renda por conta deste movimento de pejotização e sendo obrigadas a recorrerem ao empréstimo pessoal.

Dados que são confirmados através da pesquisa realizada pela Closeer, uma plataforma de freelancers, onde 70% desses profissionais no Brasil hoje são do gênero feminino. Dessas, 54% dizem que o motivo da atividade é para aumentar a renda.

Segundo o IFE, elas têm visto na solicitação de empréstimos uma ação provisória e mais rápida para saírem da inadimplência e conseguirem quitar dívidas em atraso.

Outras dizem que desejam fazer uso desse crédito com a finalidade de abrir um negócio próprio para gerar ou complementar o rendimento mensal, confirmando o empreendedorismo por necessidade.

Para Rodrigo Cezaretto, diretor operacional da FinanZero, a substituição do uso do cartão de crédito pelo empréstimo pessoal acontece devido a taxa de juros ser menor, o que possibilita acesso ao crédito para quitação de dívidas contraídas anteriormente.

“Esses dados justificam o aumento dos pedidos de empréstimo para sair do vermelho. Isso porque, nos últimos meses, com a elevação da inflação, as pessoas utilizaram o cartão de crédito e o cheque especial para consumo de itens básicos e rotineiros”, analisa.

Chefes de família: 45% das Mulheres são responsáveis pelo sustento das famílias, segundo Ipea 2020

Solteiras ou casadas, cada vez mais as mulheres estão assumindo o posto de “chefe de família” e ficando com a responsabilidade financeira da casa.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, 2020), o percentual de domicílios brasileiros chefiados por mulheres passou de 25% em 1995 para 45% em 2018.

Estima-se que quase 10 milhões de mulheres assumiram o posto de gestora da casa, no período de 2014 a 2019, enquanto 2,8 milhões de homens deixaram de ocupar esta posição por conta da crise econômica.

O levantamento feito em julho deste ano, pela CNC, mostra que 29% das famílias estão endividadas e apontam que uma única fonte de renda já não é suficiente para suprir todas as necessidades básicas e financeiras de uma família.

Para quitar dívidas e conseguir manter o padrão de vida de antes da pandemia, é possível que estas mulheres estejam buscando o empréstimo pessoal como único recurso para tentar driblar o aumento da inflação e garantir recursos mínimos para casa.

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